Falta d’água; esgotos que caem no canal do estreito e deságuam no Rio do Peixe e no Rio Piranhas, que recebe as águas do São Francisco, contaminando-os; água sem tratamento, ofertada em poços distribuídos nos bairros e comunidades da cidade. Esses são alguns dos problemas enfrentados pela população de Sousa, desde que o saneamento básico da cidade foi retirado da Companhia de Águas e Esgotos da Paraíba (CAGEPA), em 2004, e repassado para que o município gerenciasse o serviço, através do Departamento de Água, Esgoto e Saneamento Ambiental de Sousa (DAESA).
É comum ouvir todos os dias nas rádios do município reclamações da falta de água e dos mais diversos problemas relacionados ao saneamento no local.
O SINDIÁGUA-PB juntamente com membros da sociedade civil organizada de Sousa estiveram reunidos entre os dias 13 e 14 de dezembro para planejar o levantamento da real situação do saneamento da cidade de Sousa, sendo que, na última quarta (14), foi realizada uma reunião na sede do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Purificação e Distribuição de Água e em Serviço de Esgotos do Estado da Paraíba, SINDIÁGUA-PB, em Sousa, para discutir a problemática, que se tornou uma questão de calamidade pública. Na ocasião, houve participação de lideranças comunitárias, do SINDIÁGUA-PB, do SINTERÁGUA-PB, do Sindicato dos Bancários da Paraíba (SEEB), além de organizações ligadas ao debate do saneamento na Paraíba, como IFPB, representante da Comissão de Alocação de Recurso Hídricos dos reservatórios São Gonzalo e Engenheiro Avidos, da Coalizão pelos Rios, das Associações Comunitárias do Alto Sertão, de diversas lideranças comunitárias e do Fórum Alternativo Mundial da Água (Fama).
Em Sousa, não há hidrômetros para fazer a micromedição do consumo de água nas residências e nos comércios e também não há dados quanto ao tratamento e qualidade da água que abastece a cidade após da mesma sair da Estação de Tratamento de Água (ETA) da CAGEPA. Os consumidores pagam uma taxa única à DAESA, coisa em torno de 25 reais, independente do quanto utilizem. Há um rodízio semanal para que a água chegue em cada bairro e comunidade da cidade. Em tese, a água é disponibilizada durante três dias para cada localidade de Sousa, no entanto, os relatos dão conta de que, na realidade, na maioria dos bairros, sobretudo os mais humildes, a água é ofertada apenas um dia na semana, geralmente de madrugada, ou seja, a água não é disponibilizada todos os dias nas torneiras da população de Sousa.
Durante a reunião, lideranças dos bairros Raquel Gadelha, Alto do Cruzeiro, André Gadelha, CEHAP e Guanabara relataram as diversas problemáticas que vêm enfrentando em relação à falta d’água em Sousa. “Falta água constantemente. Meu bairro, por ser periférico e mais distante, o Guanabara, eles colocam três dias de água para o bairro, mas só chega um dia”, explicou Toró, do bairro Guanabara.
Os poços a que se refere Toró foram construídos na gestão do prefeito André Gadelha, com o intuito de acabar com a falta d´agua na cidade, no entanto, os poços disponibilizam água bruta, ou seja, a água ofertada não tem nenhum tipo de tratamento, além de ser salobra e conter níveis concentrados de vários tipos de sais.
“Como sempre é uma calamidade. Infelizmente, três dias d’água não existe. A realidade é uma madrugada e não chega mais. Todo mundo é um lamento só. Para acabar de completar a água chega muito fraca, aí temos que ir atrás dos poços. Os poços longes, uma dificuldade e, no poço do Colégio José Reis, se a água passar de uma dia para o outro, a água fica podre, fica fedendo. Precisa verificar isso aí! Eu fiz até uma abaixo assinado de 107 pessoas e entreguei na Câmara de Vereadores para tentar resolver a problemática da água no bairro”, disse Joseilton Silva, do bairro do Alto do Cruzeiro.
“O direito à água não está sendo respeitado. Nós estamos reivindicando um direito que está sendo usurpado todos os dias, mas estamos firmes e fortes e não vamos cruzar os braços. Vamos vencer essa batalha”, desabafou Socorro Ferreira, líder comunitária do Loteamento Raquel Gadelha.
No distrito de São Gonçalo não é diferente, apesar da presença do açude. “O quintal lá de casa dá direto no açude de São Gonçalo, mas a água só chega na sexta às 10h da manhã até o sábado em torno de 9h. A situação do esgotamento é caótico também.”, disse Eliezer Cunha Siqueira, professor do IFPB.
Segundo Valdeci Rodrigues de Araújo Filho, que é advogado e presidente da Comissão de Alocação de Recursos Hídricos dos reservatórios de São Gonçalo e Engenheiro Avidos, o volume da oferta de água para Sousa é de 230 litros por segundo, o que proporciona a capacidade de atender uma população de 120 mil habitantes.
Para César Nóbrega, componente do Fórum Alternativo Mundial da Água (Fama) e da Coalizão pelos Rios, o caso da água, em Sousa, não é normal. “É para chegar todo dia, porque a água é um bem comum. E tem um problema muito maior que é o problema do esgoto. É vergonhoso! É calamidade pública e tudo isso está sendo jogado no Rio do Peixe e essa água está sendo levada para se juntar ao Rio Piranhas, que recebe as águas do São Francisco e vai atingir lá na frente as outras comunidades”, declarou.
O SINDIÁGUA-PB esteve na cidade de Sousa nos dias 13 a 14 de dezembro em visita de campo para verificar a rede de água e esgoto da cidade conjuntamente com o Fama, a Coalização pelos Rios, a Comissão de Alocação de Recurso Hídrica e lideranças comunitárias da cidade. Esta comissão de fiscalização encontrou uma situação calamitosa. Segundo dados levantados pelo SINDIÁGUA-PB, a CAGEPA distribui por dia à DAESA, uma oferta de 275 litros/pessoa da cidade de Sousa, isso significa 3 vezes mais do que recomenda a Organização Mundial de Saúde. A ausência de manutenção e investimentos na rede de distribuição de água pela DAESA deixou a cidade nesta situação. No entanto, o SINDIÁGUA-PB lembrou que o objetivo principal é que a população de Sousa tenha água tratada e saneamento de qualidade e questões de responsabilidades será apurada pela Justiça. O importante mesmo é resolver o problema de acesso à água e esgoto da cidade.
O vice-presidente do SINDIÁGUA-PB, Geraldo Quirino, explicou a razão do Sindicato de Trabalhadores da CAGEPA estar em visita à cidade mais uma vez para verificar a situação da cidade de Sousa quanto ao saneamento. “Desde 2017 a gente vem acompanhando Sousa neste sentido e agora a situação está muito pior. Somos uma entidade que nos preocupamos com o saneamento no Brasil, com o esgoto e seu tratamento e destino, água potável, seu tratamento sua qualidade para o povo brasileiro e por isso, estamos presentes neste momento. Saneamento Básico é saúde pública preventiva, a gente está prevenindo as doenças quando a gente dá água tratada de qualidade e faz a coleta, o transporte e o destino final do esgoto sanitário. O que a CAGEPA ganha com isso? Ganha a saúde da população e não visa lucro. O município de Sousa não tem experiência e muito menos expertise para fazer isso e está fornecendo um serviço precário, pois poço sem tratamento, sem saber a qualidade da água é uma irresponsabilidade. É um desserviço a população de Sousa. Nossa proposta é que o saneamento de Sousa volte para a CAGEPA. A questão de dívida entre a DAESA e CAGEPA não interessa, o que interessa é saneamento básico de qualidade e água na torneira de qualidade”, disse Geraldo.
Ao fim da reunião foram tomados alguns procedimentos a serem implementados como a formação de uma frente jurídica para atuar no caso, a realização de mobilização por bairros para a realização de uma audiência pública ampla, além da testagem da água distribuída pela DAESA, e dos poços da cidade, e a realização de um grande ato em defesa do saneamento público no dia 22 de março 2023, Dia Mundial da Água.
Assista a seguir o vídeo sobre as condições do saneamento na cidade de Sousa: